Em 2017 fui ver uma grande exposição do Amadeo Lorenzato no Paço Imperial no Rio de janeiro que mexeu muito comigo. Ver como ele criava superfícies estriadas usando pentes e ferramentas simples mudou minha compreensão sobre a potência da textura na pintura.
Essas texturas criavam uma dimensão física na pintura e alterava a sua atmosfera. Mesmo quando não podemos tocar a pintura nos podemos sentir o ambiente.
Lembro imediatamente das montanhas pulverizadas do Drummond;
Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
— o trem maior do mundo, tomem nota —
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo e na paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
As marcas na atmosfera de Lorenzato abriu meus olhos para como a materialidade da pintura pode carregar memórias e sensações. Foi esse encontro que me permitiu elaborar a atmosfera amazônica em minhas telas. De um calor intenso e humidade que nos envolve, transformando a experiência sensorial em algo palpável. As texturas nas minhas pinturas são memórias táteis desse lugar único.
Em suas obras, as superfícies rugosas e os relevos criados artesanalmente trazem uma dimensão tátil que dialoga diretamente com nossa memória sensorial. Em meu trabalho, busco essa mesma potência, mas para contar outra história - a da umidade amazônica, do calor que abraça, da densidade atmosférica que espero transmitir.
Comments