Como fazer uma pintura abafada? Daquelas que faz a gente transpirar.
- Rafael Prado
- 27 de jan.
- 1 min de leitura
Em 2017 fui ver uma grande exposição do Amadeo Lorenzato no Paço Imperial no Rio de janeiro que mexeu muito comigo. Ver como ele criava superfícies estriadas usando pentes e ferramentas simples mudou minha compreensão sobre a potência da textura na pintura.
Essas texturas criavam uma dimensão física na pintura e alterava a sua atmosfera. Mesmo quando não podemos tocar a pintura nos podemos sentir o ambiente.
Lembro imediatamente das montanhas pulverizadas do Drummond;
Esta manhã acordo e
não a encontro.
Britada em bilhões de lascas
deslizando em correia transportadora
entupindo 150 vagões
no trem-monstro de 5 locomotivas
— o trem maior do mundo, tomem nota —
foge minha serra, vai
deixando no meu corpo e na paisagem
mísero pó de ferro, e este não passa.
As marcas na atmosfera de Lorenzato abriu meus olhos para como a materialidade da pintura pode carregar memórias e sensações. Foi esse encontro que me permitiu elaborar a atmosfera amazônica em minhas telas. De um calor intenso e humidade que nos envolve, transformando a experiência sensorial em algo palpável. As texturas nas minhas pinturas são memórias táteis desse lugar único.
Em suas obras, as superfícies rugosas e os relevos criados artesanalmente trazem uma dimensão tátil que dialoga diretamente com nossa memória sensorial. Em meu trabalho, busco essa mesma potência, mas para contar outra história - a da umidade amazônica, do calor que abraça, da densidade atmosférica que espero transmitir.
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